Igrejas neocoloniais no Rio de Janeiro

Análise de igrejas construídas em estilo neocolonial na cidade do Rio de Janeiro, em seus aspectos formais, materiais e simbólicos.

Objetivos, problema e justificativa

Este plano de trabalho busca investigar aspectos da manifestação do movimento neocolonial presentes em alguns edifícios religiosos católicos construídos na cidade do Rio de Janeiro, durante a primeira metade do século XX. A análise de algumas igrejas auxiliará na compreensão das características distintivas da linguagem neocolonial e os aspectos e elementos que caracterizam as igrejas inseridas nesse movimento.

A busca por uma linguagem arquitetônica que representasse o carácter nacional, animada pelo movimento neocolonial, foi uma questão de grande relevância na construção de edifícios religiosos durante a primeira metade do século XX. O movimento neocolonial surgiu nas capitais paulista e fluminense, no início do séc. XX, como uma alternativa baseada nas raízes ibéricas, aos estilos de base historicista internacionalista do séc. XIX. A importância da fé dentro do movimento pode ser percebida nos discursos de Ricardo SeveroSEVERO, Ricardo. A Arte Tradicional No Brasil. Revista do Brasil, v. II, n. 4, p. 394–424, 1917.

e José Marianno FilhoCf. MARIANNO FILHO, José. Escola Nacional de Arte Futurista. O Jornal, 22.07.1931.

, principais fundamentadores e propagadores do neocolonialCf. SEGAWA, Hugo. Arquiteturas nos Brasil 1900-1990. São Paulo, EDUSP, 1997. p.35-39.

. Ademais, a arquitetura sacra católica possuiu um lugar de destaque dentro do movimento, na medida em que os muitos dos elementos arquitetônicos das igrejas coloniais passaram a ser incorporados às demais edificações: cívicas, institucionais e residenciaisCf. BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. São Paulo. Perspectiva, 1981. p.53. ; Cf. ROCHA DE CARVALHO, Maurício. "O nacionalismo historicista no Brasil". DC. Revista de crítica arquitetônica, 1999, núm. 3. p. 33.

. Aracy Amaral observa o resgate dos motivos decorativos da arquitetura religiosaCf. AMARAL, Aracy. (Coord.). Arquitectura neocolonial: América Latina, Caribe, Estados Unidos. São Paulo: Memorial; Fundo de Cultural Econômica, 1994. p.12.

, enquanto Marcelo Silveira e William Bittar apontam que as residências neocoloniais exibiam nas fachadas volutas religiosas e discretos painéis de azulejos com imagens religiosas, utilizados nos frontões como antigos óculos de igrejas.Cf. SILVEIRA, Marcelo R.; BITTAR, William S. M. No centro do problema arquitetônico Nacional. 1 ed. Rio de Janeiro: Riobooks, 2013. p.118.

Se, por um lado, a fé e a arquitetura católica tiveram grande relevância dentro do movimento neocolonial, por outro lado também o movimento teve uma profunda repercussão na arquitetura sacra brasileira. Isso pode ser atestado pela acentuada discussão acerca do estilo que deveria ser adotado para a construção do Santuário Nacional de AparecidaC AMPOS Deoclecio Redig de, 1949. Carta ao Cardeal Motta.

, principal ponto de peregrinação católica no Brasil, na qual a linguagem neocolonial foi fortemente considerada; e pelo apoio acentuado do arcebispo do Rio de Janeiro Cardeal Dom Leme, o segundo cardeal brasileiro, que assinalou a preferência pelo estilo para a construção de novas igrejas em sua arquidiocese através de uma Carta Circular em 1924LEME, D. Sebastião. A defesa do patrimonio artistico das Igrejas: Carta Circular do Sr. Arcebispo. Revista Ilustração Brasileira, anno V, n.44, abril 1924.

. Desse modo, a investigação das igrejas neocoloniais construídas no Rio de Janeiro se insere na discussão acerca de uma linguagem arquitetônica que representasse o carácter nacional, que permeou o início do século XX, animada pelo movimento neocolonial.

Objetivo Geral

Reunir informações a respeito das características das igrejas neocoloniais e sobre à historiografia da construção desses edifícios — suas influências históricas, contextuais e estilísticas – a fim de sistematizar o acervo de arquitetura sacra no Brasil encontrado.

Objetivos específicos

  • Compilar uma lista e elaborar um mapa com a inserção das igrejas neocoloniais, construídas no Rio de Janeiro na primeira metade do século XX;

  • Realizar levantamento histórico, arquitetônico, bibliográfico e iconográfico, a fim de identificar as características construtivas presentes nos edifícios, em relação ao uso destes e principalmente ao movimento neocolonial;

  • Catalogar os elementos que rementem ao neocolonial identificados nos edifícios;

A partir de um levantamento prévio de dezoito igrejas que possuem características do estilo neocolonial, localizadas na cidade do Rio de Janeiro, serão selecionadas para este plano de trabalho dez igrejas, são elas: 1. Igreja de Nossa Senhora do Brasil, na Urca; 2. Igreja de Nossa Senhora da Lampadossa, no centro; 3. Igreja de Santa Margarida Maria, localizada na Lagoa, zona sul do Rio de Janeiro; 4. Igreja Santa Teresinha, situada no jardim do Palácio Guanabara; 5. Capela Nossa Senhora da Conceição do Brasil, na Tijuca; 6. Capela de Nossa Senhora das Dores, no bairro Todos os Santos; 7. Capela São João de Deus, situada no Quartel do Comando Geral do CBMERJ; 8. Paróquia Porciúncula de Sant’Ana, Niterói; 9. Paróquia Nossa Senhora das Graças - Marechal Hermes RJ; 10. Capela de Nossa Senhora das Dores, Educandário São José, Jacarepaguá RJ.

Este trabalho está associado ao projeto de pesquisa “Resiliência urbana: estratégias adaptativas na construção tradicional” que versa sobre a produção arquitetônica de meados do século XVIII até a primeira metade do século XX e faz parte do levantamento e documentação de construções tradicionais que possam demonstrar a ocorrência de características de sistemas de ordem emergente no Brasil, a fim de se preencher lacunas e anacronismos em relação a produção arquitetônica desses períodos que se mostraram pouco reconhecidas.

Viabilidade, recursos e metodologia

A análise das obras irá seguir três abordagens:

  1. Aspectos formais e tectônica:

Essa análise buscará observar quais os principais aspectos formais e os elementos identificar e analisar os elementos arquitetônico pertencentes à linguagem neocolonial presentes nas igrejas selecionadas.

  1. Materiais e Técnicas Construtivas:

Essa análise buscará observar quais os principais materiais e as técnicas construtivas das igrejas neocoloniais abordadas.

  1. Função e Significado:

Essa análise buscará observar a existência de significados simbólicos nos elementos analisados das igrejas.

A partir da investigação das dez igrejas selecionadas neocoloniais selecionadas, serão analisados os seguintes aspectos: aspectos formais e tectônica; aspectos materiais e técnicas construtivas; função e significado simbólico dos elementos.

As etapas do desenvolvimento da pesquisa consistem em:

  • Levantamento bibliográfico, hemerográfico, iconográfico e dos projetos arquitetônicos que estejam relacionados aos objetos de estudo, remotamente e presencial, se possível;

  • Registro escrito e fotográfico dos aspectos formais e dos principais elementos arquitetônicos e decorativos (iconográfico);

  • Sistematização das informações relevantes encontradas por meio de catalogações, manipulação de imagens e elaboração de mapas;

  • Identificação e catalogação das características neocoloniais presentes nas igrejas e as relações entre categoria (paróquia, capela ou igreja) e o estilo (luso-brasileiro ou hispânico);

  • Avaliação e discussão sobre o estado de conservação dos edifícios atualmente;

  • Delineação final das representações gráficas e do material teórico gerado.

A realização deste plano de pesquisa se dará por meio de fontes primárias, como a própria edificação, as plantas originais, artigos e matérias em jornais da época, entre outros documentos que abordem sobre os objetos. Além disso também há fontes secundárias como livros, artigos, teses e dissertações sobre a arquitetura do período. Registros como as plantas das igrejas e outros documentos do período podem ser encontrados no Arquivo Arquidiocesano e nos respectivos arquivos paroquiais, além de inventários e processos de tombamento. Em relação ao conteúdo hemerográfico do período, este está disponível on-line pelo site da Biblioteca Nacional, na seção da Hemeroteca Digital Brasileira e está disponível para ser acessado a qualquer momento.

Os recursos para a elaboração a serem utilizados para a execução do plano, disponíveis até o momento, vão desde a bibliografia apresentada, ao uso do computador com acesso à internet, softwares de arquitetura e projeto, como AutoCAD, Revit e SketchUp, editores de texto e outros como os que compõem o pacote Microsoft Office, até softwares de manipulação e edição de imagens como Photoshop, além de materiais para levantamento, como câmera de celular, trena à laser, caderno para anotações e lapiseira.

Bibliografia

Amaral, Aracy A. Arquitectura neocolonial: América Latina, Caribe, Estados Unidos. São Paulo: Memorial : Fondo de Cultura Económica, 1994.
Bittar, William. “Igrejas católicas neocoloniais no Rio de Janeiro: parte 1/2”. Diário do Rio de Janeiro, 8 de fevereiro de 2023. https://diariodorio.com/william-bittar-igrejas-catolicas-neocoloniais-no-rio-de-janeiro-parte-1-2/.
———. “Igrejas católicas neocoloniais no Rio de Janeiro: parte 2/2”. Diário do Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 2023. https://diariodorio.com/igrejas-catolicas-neocoloniais-no-rio-de-janeiro-parte-2-2/.
Ficher, Sylvia. “Antonio Garcia Moya, um arquiteto da Semana de 22 : parte 2”. mdc . revista de arquitetura e urbanismo, 2015. https://mdc.arq.br/2015/02/25/antonio-garcia-moya-um-arquiteto-da-semana-de-22-parte-2/.
Fischer, Sylvia. “Antonio Garcia Moya, um arquiteto da Semana de 22 : parte 1”. mdc . revista de arquitetura e urbanismo, 2012. https://mdc.arq.br/2012/03/20/antonio-garcia-moya-um-arquiteto-da-semana-de-22/.
Mascaro, Luciana Pelaes. “Difusão da arquitetura neocolonial no interior paulista, 1920-1950”. Tese de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, Instituto de Arquitetura e Urbanismo, 2008. https://doi.org/10.11606/T.18.2008.tde-06082008-102451.
Palazzo, Pedro P. “Patrimonialização e exemplaridade da arquitetura religiosa: paralelos entre o Renascimento e o Neocolonial no Brasil”. organizado por Nivaldo Vieira de Andrade Junior, E1 069. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2017.
Pinheiro, Maria Lúcia Bressan. Neocolonial, modernismo e preservação do patrimônio no debate cultural dos anos 1920 no Brasil. São Paulo: EdUSP, 2012.
Silveira, Marcelo, e William Seba Mallmann Bittar. No centro do problema arquitetônico nacional: a modernidade e a arquitetura tradicional brasileira. Rio de Janeiro: Rio Books, 2013.

Competências e habilidades

Cronograma

Mês Etapa
Pesquisa bibliográfica: estudo do material bibliográfico encontrado, documentos, artigos, teses, dissertações, livros e etc.
Pesquisa bibliográfica: estudo do material bibliográfico encontrado, documentos, artigos, teses, dissertações, livros e etc.
Pesquisa bibliográfica: estudo do material bibliográfico encontrado, documentos, artigos, teses, dissertações, livros e etc.
Investigação de materiais cartográfico e hemerográfico obtidos: investigação das influências históricas, contextuais e estilísticas por meio dos jornais e publicações encontrados. Catalogação e processamento das informações encontradas.
Investigação dos projetos originais e suas características arquitetônicas (plantas, cortes, perspectivas etc.); Investigação dos aspectos materiais e técnicas construtivas. Processamento e registro escrito das informações coletadas. Visita de campo, se possível.
Identificação e catalogação das características neocoloniais presentes nas igrejas e as relações entre categoria; Visita de campo para registro fotográfico; Processamento e registro dos elementos em um esquema gráfico, contendo imagens e descrições.
Desenvolvimento textual: revisão dos dados encontrados e pontos a serem abordados em relação aos objetivos definidos.
Desenvolvimento textual: elaboração do resumo, introdução, revisão de literatura e esqueleto do trabalho final.
Desenvolvimento textual: escrita da metodologia e discussão.
10º Desenvolvimento textual: apresentação dos resultados e conclusão.
11º Desenvolvimento textual: revisão e correções.
12º Desenvolvimento textual: revisão e formatação final.
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