Praças de mercado de Portugal medieval ao Brasil imperial

Análise das dimensões, proporções e processo de adensamento das praças de mercado luso-brasileiras desde a Idade Média até o século XIX, incluindo suas edificações notáveis.
Francisco e César Goullard, Planta topographica da cidade de Coimbra, 1874

Objetivos, problema e justificativa

Este plano de trabalho propõe um apanhado da urbanização de praças de mercado tradicionais em Portugal e no Brasil numa perspetiva de longa duração, desde os terreiros de feiras na Idade Média até as vésperas da transferência dos mercados públicos para edificações modernas em finais do século XIX. A análise de algumas praças selecionadas permitirá compreender os processos de diversificação morfológica e socioeconômica dos tecidos urbanos luso-brasileiros.

Objetivo Geral

Analisar as dimensões, proporções e processo de adensamento das praças de mercado luso-brasileiras desde a Idade Média até o século XIX, incluindo suas edificações notáveis, representando-as comparativamente em classificação cronológica e tipológica.

Objetivos específicos

  • Identificar dez praças de mercado em Portugal e no Brasil e levantar documentação histórica, cartográfica e iconográfica sobre elas;

  • Desenhar plantas e cortes das praças em diferentes momentos históricos, de modo a analisar suas dimensões, proporções e configuração formal;

  • Identificar e documentar construções históricas importantes associadas a essas praças, tais como câmaras municipais, igrejas e chafarizes;

  • Classificar as praças de acordo com sua evolução histórica e tipologias morfológicas.

As praças de mercado históricas são espaços inicialmente situados à margem da mancha urbana, permitindo fácil acesso tanto de mercadorias vindas de fora, quanto dos moradores da cidade. Desde as feiras medievais como as de Guimarães, Coimbra ou Castelo de Vide (Portugal) até as suas expressões brasileiras, como em Caruaru (PE), as praças de mercado foram determinantes nos processos de crescimento e adensamento urbanos tradicionais. Tanto em cidades planejadas quanto naquelas orgânicas, a urbanização dessas praças se caracterizou pela diversidade de formas de parcelamento do solo e de edificação, bem como gerou articulações importantes para o crescimento do tecido viário.

A urbanização de feira é um aspecto pouco estudado na tradição do urbanismo de influência portuguesa. Este plano de trabalho contribuirá, portanto, com um levantamento inicial do tema em dez cidades cujas praças sejam facilmente identificáveis na bibliografia ou na cartografia. O reconhecimento desses sítios contribuirá para os objetivos mais amplos deste projeto de pesquisa, sobretudo quanto à documentação dos processos de urbanização por ordem emergente.

Viabilidade, recursos e metodologia

Esta pesquisa será dividida em quatro partes:

  • Selecionar dez cidades portuguesas e brasileiras e localizar suas bases cartográficas e geoportais, bem como documentos de arquivo disponíveis referentes às suas praças de mercado.

  • Com base na bibliografia e em cartografia de arquivo, desenhar cada praça de mercado no seu contexto urbano e nos períodos históricos mais significativos, representando-a em planta e cortes.

  • Identificar as principais construções cívicas adjacentes às praças, estabelecendo suas relações históricas, morfológicas e funcionais com o espaço público.

  • Analisar as praças de modo a estabelecer classificações comparativas entre elas, tomando como base a sua morfologia — dimensões, proporções, geometria e padrão de parcelamento do solo —, relação com a arquitetura cívica e processo de transformação histórica.

A pesquisa parte da metodologia da análise urbana, tal como consolidada por Philippe PaneraiAnálise urbana, trad. Francisco Leitão (Brasília: Editora UnB, 2006).

, com ênfase no estudo das geometrias espaciais locais e no conceito de cinturas marginais.

Para o presente trabalho, serão utilizados principalmente o QGIS, um programa para Sistemas de Informação Geográfica, e o programa de desenho técnico AutoCAD, para mapear, padronizar e analisar os documentos geográficos. Para organizar as dimensões urbanísticas encontradas será utilizado o editor Microsoft Excel. A Universidade de Brasília possui a infraestrutura necessária para o desenvolvimento da pesquisa, a começar pelos programas indicados acima, que estão instalados no Laboratório de Informática para Arquitetura e Urbanismo (LIAU).

Em caso de continuação da greve de servidores e docentes durante a vigência do plano de trabalho, a pesquisa prosseguirá remotamente utilizando os mesmos softwares e acessando recursos disponíveis em arquivos e repositórios online. A deficiência de acesso a bibliografia impressa nas bibliotecas da UnB não será determinante.

Bibliografia

Alarcão, Jorge de. Coimbra: a montagem do cenário urbano. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2008.
Augusto, Octávio Cunha Gonçalves Simões. “A praça de Coimbra e a afirmação da Baixa: origens, evolução urbanística e caracterização social”. Dissertação de mestrado em História, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2013. https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/29366.
Calabi, Donatella. The market and the city: square, street and architecture in early modern Europe. London : New York: Routledge, 2017.
Corsi, Cristina, e Frank Vermeulen, orgs. Changing landscapes, the impact of Roman towns in the Western Mediterranean: proceedings of the international colloquium, Castelo de Vide, Marvão, 15th-17th May, 2008. Ricerche. Serie maior 1. Bologna: Ante quem, 2010.
Miranda, Gustavo Magalhães Silva. “A feira na cidade: limites e potencialidades de uma interface urbana nas feiras de Caruaru (PE) e de Campina Grande (PB)”. Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento Urbano, Universidade Federal de Pernambuco, 2009. https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/3220.
Oliveira, Marcelo Iury, Cristiane Loriza Dantas, e Fernanda Fonseca Cruvinel de Oliveira. “As transformações na paisagem: o mercado municipal da cidade de Goiás”. Revista Mosaico 12 (10 de junho de 2019): 68. https://doi.org/10.18224/mos.v12i0.6805.
Panerai, Philippe. Análise urbana. Traduzido por Francisco Leitão. Brasília: Editora UnB, 2006.
Sitte, Camillo. A construção das cidades segundo seus princípios artísticos. Organizado por Carlos Roberto Monteiro de Andrade. Traduzido por Ricardo Ferreira Henrique. São Paulo: Ática, 1992.

Competências e habilidades

A aluna, mesmo estando no início do curso, demonstra grande interesse na temática de história da arquitetura e urbanismo, e tem facilidade com a expressão escrita e gráfica, bem como o domínio geral da informática. Está em processo de aquisição das competências mais específicas de programas de computador atinentes a este plano de trabalho, as quais estarão plenamente dominadas em tempo hábil para a etapa correspondente da pesquisa. Além disso, sua capacidade de expressão gráfica à mão é de grande valia para o desenvolvimento das análises espaciais.

Cronograma

Mês Tarefa
01 Revisão bibliográfica e identificação dos acervos
02 Levantamento de iconografia primária
03 Levantamento de iconografia primária
04 Levantamento de bases cartográficas de apoio
05 Redesenho e análise das características das praças
06 Redesenho e análise das características das praças
07 Análise comparativa das praças
08 Definição de padrões e fluxo de trabalho para modelagem
09 Modelagem e renderização das praças
10 Modelagem e renderização das praças
11 Redação do artigo
12 Revisão e formatação do artigo