Praças ideais do Iluminismo ao século XIX

Análise e reconstituição virtual de praças não construídas, inconclusas, alteradas ou destruídas, com foco no mundo luso-brasileiro dos séculos XVIII e XIX.
A.H.V. Grandjean de Montigny, Projeto para a nova implantação do Paço imperial, 1826

Objetivos, problema e justificativa

Este plano de trabalho propõe compilar, analisar e reconstituir praças não construídas, inconclusas, alteradas ou destruídas, com foco no mundo luso-brasileiro dos séculos XVIII e XIX, a partir de seus projetos documentados na bibliografia de referência e em acervos digitalizados, tais como as Bibliotecas nacionais do Brasil e de Portugal. O estudo desses projetos oferecerá um olhar sobre o pensamento urbanístico de um período da história luso-brasileira que é frequentemente tratado como um hiato na política urbanizadora oficial. A meta a ser atingida é de cinco praças neste plano de trabalho, à partida as seguintes, sujeitas a confirmação:

  • Praça hexagonal de Manique do Intendente (Portugal), incompleta;
  • Plano urbanístico de Porto Covo (Portugal), não executado conforme o plano;
  • Praça diante do palácio da Ajuda, Lisboa, não realizada;
  • Forte de Nossa Senhora dos Prazeres do rio Iguatemi, Mato Grosso do Sul, arruinado;
  • Projeto de palácio imperial e assembleia com suas praças por Grandjean de Montigny, Rio de Janeiro, não realizado.

Objetivo geral

Apresentar um catálogo tipológico de praças ideais do Iluminismo até o século XIX, classificadas por suas características morfológicas, periodização e distribuição geográfica, e apresentadas na forma de reconstituições virtuais.

Objetivos específicos

  • Compilar projetos e levantamentos de praças que se encontrem em acervos digitalizados e na bibliografia de referência, identificando suas escalas e, onde couber, cruzando os desenhos com documentação arqueológica e arquitetônica;

  • Reconstituir, por meio do redesenho, os traçados reguladores e os sistemas modulares e proporcionais das praças, da implantação de edifícios monumentais e do parcelamento do solo circundante;

  • Propor visualizações dessas praças com o uso de programas de modelagem tridimensional.

Este plano de trabalho se vincula ao projeto de pesquisa maior que investiga as tradições edilícias e urbanísticas no mundo luso-brasileiro desde o século XVIII. Ele estende o entendimento dessas tradições para incluir as formulações intelectuais que exploram os limites dessas visões de mundo tradicionais.

As praças ideais são exercícios da imaginação arquitetônica que dão a ver aquilo que as restrições orçamentárias, logísticas e políticas impedem que seja edificado na cidade real. Por isso, seu estudo contribui para uma compreensão mais completa do período histórico em questão. No contexto dos estudos sobre a resiliência urbana da construção tradicional, os projetos ideais evidenciam os limites práticos que se impõem sobre visões de transformação do cenário urbano.

A reconstituição virtual de praças ideais participa de uma exploração de tecnologias digitais como instrumentos de investigação histórico–arqueológica, que vem ganhando força nos últimos anos. Essa exploração parte da premissa de que a reconstituição pode e deve ir além do seu papel convencional de visualização educativa. De fato, o processo de elaboração dos modelos digitais é ele próprio uma ocasião de produzir e verificar conhecimentos sobre os objetos de estudos.

Viabilidade, recursos e metodologia

Este trabalho se divide em três etapas:

  1. Compilar a iconografia sobre as praças escolhidas existente na bibliografia de referência e nos acervos digitalizados, bem como localizar as bases cartográficas e geoportais das localidades onde essas praças teriam sido inseridas.

  2. Com base na iconografia e na cartografia, desenhar cada praça ideal no seu contexto urbano e histórico, representando-a em planta e em cortes, e reconstituir a arquitetura das edificações circundantes.

  3. Reconstituir o aspecto de cada praça por meio de modelagem tridimensional, usando o método ExtendedMatrix para apresentação dos diferentes graus de confiança histórico–arqueológica quanto ao aspecto dos elementos reconstituídos.

O presente trabalho utilizará o software livre de modelagem tridimensional Blender, amplamente empregado no campo disciplinar da reconstituição arqueológica. Possui, portanto, ampla base de recursos de apoio disponíveis. Além disso, o software livre QGIS será um programa de apoio para sistematizar e retificar a base iconográfica e cartográfica das praças. O processo também envolve a produção de desenhos à mão como forma de estudo e planejamento.

Quanto à pesquisa de fontes primárias, ela se concentra na bibliografia de referência, amplamente acessível em diversas bibliotecas públicas, e em acervos digitalizados disponíveis online. Dentre esses acervos, destacam-se as Bibliotecas nacionais do Brasil e de Portugal, os Arquivos nacionais do Brasil e de Portugal, e portais de entidades sem fins lucrativos tais como a Brasiliana iconográfica.

Bibliografia

Arestizabal, Irma, Giovanna Rosso del Brenna, e Susane Worcman, orgs. Grandjean de Montigny e o Rio de Janeiro. Uma cidade em questão 1. Rio de Janeiro: PUC–RJ : Funarte : Fundação Roberto Marinho, 1979. http://acervo.bndigital.bn.br/sophia/index.asp?codigo_sophia=31785.
Derntl, Maria Fernanda. Método e arte: urbanização e formação territorial na capitania de São Paulo, 1765-1811. São Paulo: Alameda : Fapesp, 2013.
Florentino, Rui, Cláudia Braga Gaspar, José Pedro de Galhardo Tenreiro, e Pedro P. Palazzo. “Dimensões tradicionais do projeto urbano em cidades portuguesas: do terramoto à República”. Em Ambientes em mudança, organizado por Paulo B. Lourenço, Carlos Maia, Arnaldo Sousa Melo, e Clara Pimenta do Vale, 749–61. Guimarães: Universidade do Minho, 2023. https://drive.google.com/file/d/1SvU-hrDLtBhJUj7SwOXITxOchExBbJtT/view?usp=sharing.
Marques, Cátia Gonçalves. “Manique do Intendente: uma vila iluminista”. Prova final de Licenciatura em Arquitectura, Universidade de Coimbra, Faculdade de Ciências e Tecnologia, 2004. https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/5515.
Teixeira, José de Monterroso. “José da Costa Silva (1747-1819) e a receção do neoclassicismo em Portugal: a clivagem de discurso e a prática arquitetónica”. Tese (doutoramento) em História da Arte, Universidade Aberta, 2013. http://repositorio.ual.pt/handle/11144/305.
Telles, Angela. Grandjean de Montigny: da arquitetura revolucionária à civilização nos trópicos. Rio de Janeiro: Folha Dirigida : Unirio : Arquivo Nacional, 2008.

Competências e habilidades

A aluna vem demonstrando perseverança e espírito investigativo, tendo continuado a orientar e a desenvolver o trabalho da minha disciplina mesmo durante a greve, com afinco e qualidade. Possui grande sensibilidade visual para a análise e representação do espaço público e construído. Complementa sua habilidade avançada em desenho à mão, que será aproveitada em representações neste plano de trabalho, com aprendizado em andamento dos programas computacionais e métodos técnicos atinentes a esta pesquisa. Por fim, e não menos importante, demonstra um gosto pronunciado pelos ambientes construídos tradicionais.

Cronograma

Mês Tarefa
01 Revisão bibliográfica e identificação dos acervos
02 Levantamento de iconografia primária
03 Levantamento de iconografia primária
04 Levantamento de bases cartográficas de apoio
05 Redesenho e análise das características das praças
06 Redesenho e análise das características das praças
07 Análise comparativa das praças
08 Definição de padrões e fluxo de trabalho para modelagem
09 Modelagem e renderização das praças
10 Modelagem e renderização das praças
11 Redação do artigo
12 Revisão e formatação do artigo