Objetivos, problema e justificativa
O objeto deste plano de trabalho é compilar uma documentação arquitetônica descritiva de algumas moradas suburbanas tradicionais situadas ao longo da rua do Rosário, em Luziânia, estado de Goiás, principalmente por meio de levantamentos de campo, complementada por iconografia histórica. O objetivo geral desta pesquisa será descrever a inserção dessas casas no processo de expansão urbana de Luziânia das décadas finais do ciclo do ouro (final do século XVIII) até o declínio da sua importância como encruzilhada comercial e agroexportadora (meados do século XX). Para tanto, derivam-se os seguintes objetivos específicos:
- Realizar o levantamento arquitetônico de cada edificação ou conjunto edilício, reportando os dados coletados num sistema HBIM semântico;
- Situar os sistemas construtivos analisados no âmbito da história da construção luso-brasileira;
- Interpretar a inserção das casas no vetor de expansão noroeste de Luziânia, com base nas fontes documentais coletadas e numa leitura da morfologia urbana da rua do Rosário.
O antigo arraial e vila de Santa Luzia, atual cidade de Luziânia, foi fundado como sítio minerador pelo bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva Filho em 1746. O local ganha destaque nas fontes históricas a partir do final do ciclo do ouro, com a abertura do famoso “rego das cabaças” — um dos primeiros empreendimentos de infraestrutura de grande porte em Goiás —, e se torna uma importante encruzilhada comercial ao longo do século XIX, quando o leste de Goiás se torna um polo agroexportador de porte no mercado nacional. A vila de Santa Luzia chegou a ser visitada pelo botânico francês Auguste de Saint-Hilaire em 1818, durante sua travessia da província de Goiás.
Grande parte do acervo arquitetônico dos séculos XVIII e XIX na cidade seria destruída na segunda metade do século XX. Atualmente, a rua do Rosário agrega a maior concentração de casas históricas em Luziânia. O conjunto edificado da rua do Rosário é de singular importância para o conhecimento da história arquitetônica de Goiás, pois é formado por uma sequência de moradas suburbanas, menos frequentemente estudado do que as moradas urbanas e as casas de fazenda paradigmáticas dos períodos colonial e imperial. O gradual desaparecimento dessas moradas suburbanas constitui, portanto, uma perda inestimável para o conhecimento historiográfico da arquitetura no interior do Brasil.
Na falta de perspectivas concretas para a proteção jurídica e a preservação material desse conjunto histórico, o tempo urge para, ao menos, constituir uma documentação satisfatória das casas suburbanas de Luziânia. A documentação arquitetônica destes imóveis é a etapa inicial de um inventário arqueológico, oferecendo subsídios para interpretações historiográfica bem como para a conservação física das edificações que for possível preservar. O ponto de partida para essa documentação será a Casa de Cultura de Luziânia, ela própria um casarão do século XVIII situado no ponto inicial da rua do Rosário, que possui um rico acervo fotográfico e textual sobre a cidade. A produção cronística e historiográfica de Luziânia, especialmente a obra de Gelmires Reis, pode oferecer o relevante contexto dos processos de consolidação urbana.
Este Plano de Trabalho visa a suprir a lacuna documental sobre a Casa de Cultura de Luziânia e algumas outras casas suburbanas na rua do Rosário, por meio do levantamento detalhado de suas dimensões físicas, sistemas construtivos, detalhes, patologias e estado de conservação, bem como da documentação arquivística existente — escrita, oral e iconográfica. A documentação será consolidada segundo o paradigma do Historic Building Information Modeling (HBIM) e dela será derivada uma interpretação preliminar quanto às relações das casas estudadas entre si e com a cidade.