Documentário de arquitetura cívica tradicional

Análise gráfica de edifícios cívicos brasileiros 1780–1890, por meio do redesenho e análise de dimensões, proporções, distribuição espacial e elementos ornamentais.

Objetivos, problema e justificativa

Este plano de trabalho consiste na análise gráfica de edifícios cívicos construídos ou reformados no Brasil entre 1780 e 1890. O seu objetivo geral é evidenciar a interação entre modelo eruditos modernos, transmitidos pelo ensino formal da arquitetura a partir de finais do Antigo Regime, e a persistência de padrões vernaculares de organização espacial e de traçados modulares e proporcionais. Este estudo será feito por meio do redesenho e estudo da documentação gráfica existente na bibliografia e em processos dos órgãos federal e estaduais de patrimônio cultural. Os objetivos específicos necessários à sua consecução são:

  • Compilar uma lista representativa de edifícios cívicos (ou seja, destinados a serviços e representações públicas do Estado, de atividades não litúrgicas da Igreja, e de organizações civis), publicados na bibliografia do campo disciplinar e em processos do patrimônio cultural, equilibradas no recorte cronológico deste plano e na sua distribuição geográfica;
  • Redesenhar digitalmente as plantas e outros desenhos existentes, identificando as dimensões e proporções dos ambientes;
  • Estabelecer tipos de distribuições espaciais e identificar padrões de semelhanças e transformações na modularidade dimensional e nas proporções das edificações estudadas;
  • Compilar as comparações em quadros gráficos.

O século XIX é um período de transição na organização de entidades públicas e privadas e na forma simbólica de suas sedes. A emergência de uma ordem burguesa e liberal em meio às contradições da persistência do sistema oligárquico e escravista induz necessidades peculiares na diversificação de programas e tipos arquitetônicos. Edifícios destinados não apenas a abrigar usos cívicos, como também a representar visualmente as instituições que eles abrigam, são objeto de experimentos formais os mais variados. Com frequência, mas nem sempre, tais experimentos se dão pela imitação intencional de repertórios formais e de debates teóricos formulados na Europa e transmitidos seja pelo ensino acadêmico da arquitetura no Brasil imperial, seja pela circulação de publicações e de profissionais migrantes.

Tal contexto foi prontamente reconhecido pelos órgãos do patrimônio cultural, e um grande número de edifícios cívicos dentro do recorte cronológico deste plano de trabalho é tombado desde a época do Estado Novo, embora vários tenham sofrido degradações ou intervenções destrutivas. Em particular, diversos edifícios neoclássicos ou ecléticos foram mutilados pelos próprios restauradores com vistas a restituir-lhes conjeturais feições “coloniais”.

Nesse contexto, este plano de trabalho assume a tarefa de constituir uma base de referências arquitetônicas para sistematizar as continuidades e transformações na arquitetura cívica desde o final do Antigo Regime até a queda do Império. Para tanto, vale-se do instrumental corrente nos cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo: localização e interpretação de referências bibliográficas e de documentos já organizados em processos administrativos, desenho técnico computadorizado, e o estudo da geometria das construções por meio de critérios estéticos e matemáticos.

O recorte temático proposto pela arquitetura cívica tem como propósito evitar os lugares-comuns frequentes no estudo da arquitetura religiosa, ao mesmo tempo que permite verificar estratégias projetuais e escolhas estéticas no registro erudito durante uma época em que as atribuições profissionais de arquitetos, engenheiros e mestres construtores permanecem fluidas e sobrepostas entre si.

O resultado deste plano de trabalho será um “documentário arquitetônico”, um catálogo crítico de formas e tipos atestados na história da arquitetura cívica brasileira. Além de ser por si próprio um recurso importante para pesquisas de aprofundamento futuras, este catálogo compõe um corpo de documentação que vem sendo produzido desde 2020 no âmbito deste projeto de pesquisa. Tal corpo constitui um material unificado, em breve a ser divulgado online, sobre a consolidação de uma tradição arquitetônica luso-brasileira da época imediatamente anterior e do meio século posterior à Independência. Esse período é um fulcro no processo de especialização de edificações destinadas ao serviço e à representação de instituições públicas, religiosas e privadas no Ocidente, e não é diferente no Brasil.

Viabilidade, recursos e metodologia

Conforme exposto nos objetivos, este plano de trabalho se desenvolve em três etapas:

  1. Compilação de fontes bibliográficas e documentais referentes a edifícios cívicos construídos no período 1780–1890;
  2. Redesenho analítico da documentação arquitetônica;
  3. Análise e classificação das edificações estudadas em categorias tipológicas.

A carga de trabalho para a execução das atividades de todas as etapas está estimada em 10 horas semanais durante a vigência do plano de trabalho.

O material bibliográfico e documental compreende elementos pré-selecionados desde já disponíveis para os pesquisadores, pertencentes ao acervo das bibliotecas da Universidade de Brasília ou ao acervo pessoal do orientador, bem como documentos técnicos de licitações já publicadas e cujas cópias digitais já estão arquivadas pelo grupo de pesquisa. Embora esses materiais já cumpram a meta numérica estabelecida para este plano de trabalho, será feita uma pesquisa por mais material de modo a melhorar a representatividade geográfica e cronológica do repertório.

A análise visual como instrumento da pesquisa histórica é um método consagrado no campo disciplinar da arquitetura. Trata-se de instrumento complementar aos estudos sociais e econômicos baseados em fontes escritas. Os aspectos visuais e espaciais preeminentes das construções pertencem a quatro categorias, da mais abstrata à mais tangível:

  1. Tipo de configuração distributiva, compreendendo a orientação do lote e da edificação (longitudinal, transversal ou centralizada), implantação com respeito ao espaço público, a disposição de cômodos e circulações, e a existência de espaços dominantes por suas dimensões e posição;
  2. Dimensões e proporções de cômodos, espaços abertos e elementos construtivos, incluindo as relações entre largura, comprimento e altura, grau de abertura ou fechamento de espaços, pátios, escadarias e outros;
  3. Relações entre cheios e vazios, incluindo proporções entre dimensões lineares e áreas de paredes e aberturas, espessuras de paredes e perfis de vãos estruturais (vergas ou arcos de aberturas);
  4. Perfis de molduras ornamentais e detalhes construtivos, tais como ordens clássicas, cimalhas, umbrais de portas e janelas, silharias, rodapés, forros e guarda-pós, chafarizes.

A documentação gráfica existente na bibliografia e processos não será homogeneamente detalhada para todas as edificações estudadas, resultando em informações de qualidade desigual para as categorias citadas. Tal discrepância é esperada e não comprometerá a visão de conjunto dos resultados.

Este plano de trabalho será executado com os recursos seguintes:

  • Acesso a processos de órgãos do patrimônio cultural, publicados na forma de inventários, licitações, ou podendo ser consultados a pedido;
  • Acesso a recursos bibliográficos das bibliotecas da Universidade e do acervo pessoal do orientador;
  • Computador pessoal com instalação de software livre necessário para as atividades: LibreOffice (planilhas), QCAD (desenho técnico) e QGIS (georreferenciamento), ou programas equivalentes conforme a necessidade e disponibilidade, podendo ser equipamento próprio do aluno, do orientador, ou um computador da Universidade já instalado no Laboratório de Estudos da Urbe (LabeUrbe), na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.

Todos os recursos elencados acima já se encontram à disposição do grupo de pesquisa ou estima-se que possam ser obtidos ou remanejados em tempo hábil.

Bibliografia

Competências

A aluna selecionada se encontra em estágio avançado do curso de Arquitetura e Urbanismo, dominando os recursos tecnológicos e as competências gráficas e interpretativas necessárias à consecução deste plano de trabalho. Ela já demonstrou sua afinidade com a temática da arquitetura cívica tradicional ao desempenhar, no semestre 2022.2, o papel de monitora junto ao professor coordenador deste projeto de pesquisa.

Cronograma

Mês Atividade
1 Exploração e levantamento dos arquivos e da bibliografia
2 Escolha e classificação de exemplares representativos
3 Determinação de padrão gráfico para a representação
4 Compilação de material gráfico existente e redesenho
5 Compilação de material gráfico existente e redesenho
6 Compilação de material gráfico existente e redesenho
7 Organização de detalhes arquitetônicos ampliados
8 Organização de detalhes arquitetônicos ampliados
9 Análise e discussão de propriedades espaciais
10 Redação do relatório final
11 Redação do relatório final
12 Revisão e formatação do relatório final